05/11/2016

RESSURREIÇÃO - MIGUEL TORGA

                 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
RESSURREIÇÃO
 
 
 
 
Porque a forma das coisas lhe fugia,
O poeta deitou-se e teve sono.
Mais nenhuma ilusão apetecia,
Mais nenhum coração era seu dono.
 
Cada fruto maduro apodrecia;
Cada ninho morria de abandono;
Nada lutava e nada resistia,
Porque na cor de tudo havia outono.
 
Só a razão da vida via mais:
Terra, sementes, caules, animais
Descansavam apenas um momento.
 
E o vencido poeta despertou
Vivo como a certeza de um rebento
Na seiva do poema que sonhou.
 
 
Miguel Torga 







 
 
 
 
 
 
 
.







 
 
 
 
 
 
 
 
Fotografia de Fernando Pedrosa