11/09/2015








 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HÁ POEMAS ASSIM
 
 
 
Há poemas que nascem por entre lascas de vidro,
 
e doem quando as palavras que escolhemos,
 
se rasgam ao se cortarem nas arestas da emoção.
 
Há poemas que não se escrevem para serem lidos:
 
escrevem-se para serem pisados com os pés nus,
 
como uvas maduras pisadas nos lagares de vinho.
 
Há poemas abandonados na memória fresca do mundo,
 
morrendo desnutridos nas areias de paraísos sonhados,
 
como morrem as palavras do poeta, no lento e penoso
 
despigmentar da hemoglobina do sangue animal.
 
Há poemas que são um mistério indecifrável,
 
que estão para além das ciências da química e da biologia,
 
e são universos dentro de outros universos,
 
latejando de vida em veias de clorofila e espectros de luz.
 
Há poemas assim, vivos e naturais, que se reescrevem
 
a si mesmos, a cada ciclo solar, a cada ciclo lunar,
 
  na perpétua renovação do pó ancestral das estrelas:
 
a Divina e misteriosa Caligrafia de Deus.
 
 
Há poemas que não sabemos ler pela falta de saber olhar.
 
 
 
 
Fernando Pedrosa
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


Fotografia de Fernando Pedrosa