16/10/2011

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O BAIRRO DA MINHA INFÂNCIA
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Não são as criaturas que morrem.
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É o inverso:
só morrem as coisas.
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As criaturas não morrem
porque a si mesmas se fazem.
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E quem de si nasce
à eternidade se condena.
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Uma poeira de túmulo
me sufoca o passado
sempre que visito o meu velho bairro.
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A casa morreu no lugar onde nasci:
a minha infância não tem mais onde dormir.
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Mas eis que,
de um qualquer pátio,
me chegam silvestres risos
de meninos brincando.
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Riem e soletram
as mesmas folias
com que já fui soberano
de castelos e quimeras.
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Volto a tocar a parede fria
e sinto em mim o pulso
de quem para sempre vive.
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A morte
é o impossível abraço da água.
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Mia Couto
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Fts: Walter
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