30/04/2010

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Liberdade
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Aqui nesta praia onde
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Não há nenhum vestígio de impureza,
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Aqui onde há somente
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Ondas tombando ininterruptamente,
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Puro espaço e lúcida unidade,
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Aqui o tempo apaixonadamente
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Encontra a própria liberdade.
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Sophia de Mello Breyner Andresene
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Fotos: Walter
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Sesimbra, Abril de 2010
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18/04/2010

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Olhando o mar, sonho sem ter de quê
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Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?
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Ver claro! Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.
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As árvores longíquas da floresta
Parecem, por longíquas, 'star em festa.
Quanto acontece porque não se vê!
Mas do que há pouco ou não há o mesmo resta.
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Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.
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Colhes rosas? Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas. Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?
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. Fernando Pessoa .
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Amigos: Até já...!
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Fotos: Walter
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10/04/2010

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Ode à Paz
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Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,
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Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que grotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pelas futuras manhãs dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
*************deixa passar a Vida!
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Natália Correia, in "In Inéditos (1985/1990)"
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O Amor a Poesia e a Flor... nada mais!
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Sintam-se em Paz neste jardim que plantei para vós...
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Walter
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Fotos: Walter
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02/04/2010

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acrílicos/tela - autor: Walter
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Os Anjos caídos
[ou a Construção do Caos]
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Os homens são anjos caídos que Deus mandou para a Terra
porque botaram defeito na criação do mundo.
Aqui, começaram a inventar coisas, a imitar
Deus. E Deus ficou zangado, mandou muita chuva
e muito fogo, eu vi de perto a Sua raiva sacra,
pois foram sete dias de trabalho intenso, eu vi de
perto, quando chegava uma noite escura
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Só meu candeeiro é quem velava o Seu sono santo
Santo que é Seu nome e Seu sorriso raro
Eu voava alto porque tinha um grande par de asas
Até que um dia caí
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E aqui estou nesse terreiro de samba
Ouvindo o trabalho do Céu
E aqui estou nesse terreiro de guerra
Ouvindo a batalha do Céu
Nesse terreiro de anjos caídos
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Cá na Terra trabalho é todo dia
Levantar quebrar parede
Matar a fome matar a sede
Carregar na cabeça uma bacia
E esse fogo que a Sua boca envia
Pra nossa criação
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Deus Esse terreiro de anjos
Esse errar que é sem fim
Essa paixão tão gigante
Esse amor que é só Seu
Esperando você chegar
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Os Homens aprenderam com Deus a criar
e foi com os Homens que Deus aprendeu a amar
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. Lirinha .
[ banda cordel do fogo encantado]
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fotos: Walter
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