19/12/2010

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FALAVAM-ME DE AMOR
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Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,
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menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pede às andorinhas.
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Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.
O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.
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Natália Correia
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Fts: Walter
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11/12/2010

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Poema de Natal
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Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação na poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
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Vinicius de Moraes
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Um Santo e Feliz Natal
a todos os comentadores e amigos
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Fts: Walter
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30/11/2010

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És tu que acendes os balões do céu...
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e acordas os olhos das nuvens para a face dos dias...
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...e só tu para dizeres coisas bonitas assim!
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Acendo balões neste céu....
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Fts: Walter
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19/11/2010

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sob os céus de um pássaro-folha
sobrevoam obreiras incandescentes centelhas
polinizam flores de mil cores pardacentas
e são cinco os olhos com que observam atentas
influem laboriosas em heterotípicas sociedades
e organizam.se disciplinadas sobre as franjas das cidades
assim procede rumo ao fim o cetim das anciãs abelhas
e tão somente trabalham as fêmeas operárias
os machos voam livres sobre colmeias várias
fertilizam a rainha no mais alto voo nupcial
para sucumbirem à fome e ao frio que afinal
são os alvéolos dos homens tantas vezes de fel
pelo que consagro às abelhas este favo de mel
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um bzzz... que veio daqui
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fts: walter
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07/11/2010

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Não te Arruínes, Alma, Enriquece
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Centro da minha terra pecadora,
alma gasta da própria rebeldia,
porque tremes lá dentro se por fora
vais caiando as paredes de alegria?
Para quê tanto luxo na morada
arruinada, arrendada a curto prazo?
Herdam de ti os vermes? Na jornada
do corpo te consomes ao acaso?
Não te arruínes, alma, enriquece:
vende as horas de escória e desperdício
e compra a eternidade que mereces,
sem piedade do servo ao teu serviço.
Devora a Morte e o que de nós terá,
que morta a Morte nada morrerá.
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William Shakespeare, in "Sonetos"
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fts: Walter
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02/11/2010

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Há em Toda a Beleza uma Amargura
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Há em toda a beleza uma amargura
secreta e confundida que é latente
ambígua indecifrável duplamente
oculta a si e a quem na olhar obscura
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Não fica igual aos vivos no que dura
e a não pode entender qualquer vivente
qual no cabelo orvalho ou brisa rente
quanto mais perto mais se desfigura
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Ficando como Helena à luz do ocaso
a língua dos dois reinos não lhe é azo
senão de apartar tranças ofuscante
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Mas à tua beleza não foi dado
qual morte a abrir teu juvenil estado
crescer e nomear-se em cada instante?
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Walter Benjamin, in "Sonetos"
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Tradução de Vasco Graça Moura
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fts: walter
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30/10/2010

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BALADA DE OTOñO
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Joan Manuel Serrat
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Llueve, detrás de los cristales, llueve y llueve
sobre los chopos medio deshojados, sobre los
pardos tejados, sobre los campos, llueve.
Pintaron de gris el cielo y el suelo se fue
abrigando con hojas, se fue vistiendo de otoño.
La tarde que se adormece parece un niño que el
viento mece con su balada en otoño. Una
balada en otoño, un canto triste de melancolía,
que nace al morir el dia. Una balada en otoño,
a veces como un murmullo, y a veces como un
lamento y a veces viento. Llueve, detrás de los
cristales, llueve y llueve sobre los chopos medio
deshojados, sobre los pardos tejados sobre los
campos, llueve. Te podría contar que esta
quemándose mi último leño en el hogar, que
soy muy pobre hoy, que por una sonrisa doy
todo lo que soy, porque estoy solo y tengo
miedo. Si tú fueras capaz de ver los ojos tristes
de una lámpara y hablar con esa porcelana que
descobrí ayer y que por un momento se ha
vuelto mujer. Entoces, olvidando mi mañana y
tu pasado volverías a mi lado. Se va la tarde y
me deja la queja que manãna será vieja de una
balada en otoño.
Llueve, detrás de los cristales, llueve y llueve
sobre los chopos medio deshojados...
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fts: walter
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20/10/2010

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Outono

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As folhas caem como se do alto
caíssem, murchas, dos jardins do céu;
caem com gestos de quem renuncia.
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E a terra, só, na noite de cobalto,
cai de entre os astros na amplidão vazia.
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Caímos todos nós. Cai esta mão.
Olha em redor: cair é a lei geral.
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E a terna mão de Alguém colhe, afinal,
todas as coisas que caindo vão.
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Rainer Maria Rilke
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fts: Walter
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08/10/2010

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da ressalva de um beijo em bandeja de prata
do jasmim és errata de uma arquitectura pungente
do marfim és a salva de um véu redentor
como abóbada de um templo há tanto pingente
de agora em diante sigo o teu indício de odor
do alecrim és incenso na partilha do fulgor
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por amor conduzes ao peito um pórtico emergente
da boca és o céu a ser o tecto presente
inefáveis os passos por onde passas indiferente
adenda mítica nas veredas de um universo maior
de agora em diante o teu sorriso é o bastante
para que adiante te escolte um cavaleiro andante
na voragem do estio onde és pavio superior

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No dia 8 de Outubro de 2009, por esta porta entrei pela primeira vez... faz hoje precisamente um ano.
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Desse dia, guardo na memória este belíssimo poema, significando ele para mim, a raiz de uma amizade que foi crescendo bela e sadia e que anseio ser para todo o sempre.
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Walter
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fts: walter
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