22/11/2009

Uma terra nua, fria e crua... inventada por mim... (?)

Acrílico s/tela - Título: Uma terra nua, fria e crua... inventada por mim... (?) - Autor: Walter
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Outrora uma terra farta... embalada pelo canto dos pássaros e das águas cristalinas...
Havia risos de crianças - ecos de vida - voando por entre os arvoredos...
Tantas eram as almas povoando aqueles dias... felizes como o rio que ali corria...
Muito era o leite materno multiplicando a vida...
Nos seus montes, o mel que das colmeias escorria, a terra alimentava, tornando-a mais doce... seiva dourada, sangue pulsante de vida...
Mas... certo dia, de mansinho, a ganância aqui se fez representar, toda vestida a jeito... ardilmente disfarçada de largos e bondosos sorrisos, e mil promessas aqui deixou...
E enquanto a terra adormecia, sonhando sonhos nunca antes sonhados, sobre o travesseiro da inocência... a terra era esventrada, e dela sugada toda a água - o néctar da vida.
Para lá dos longínquos horizontes a levaram, com a pressa necessária à engorda de outros caudais - felizes eram agora, outras distantes sociedades... modernas.
Acordam as almas desta terra... que traídas se vendo, em desalento foram partindo envergonhadas... e outras, as mais cansadas, na solidão de quatro paredes ficaram resguardadas, desdobrando-se em rogadas preces e penitências... com olhares clementes postos, na sobranceira ermida, onde a Santa habitava.
E lentamente a terra foi definhando, mostrando toda a sua desolada e cáustica nudez.
Nesta terra... nua, fria e crua, onde todo o leite materno já secou, apenas o silêncio e uma perturbadora pálida luz a vestem...
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Talvez um dia aqui volte... a esta terra magoada, com uma paleta de vibrantes verdes de esperança, e oceânicos azuis... para encher de cor esta tela, onde a vida já não está desenhada...
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Texto e fotografia: Walter
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