31/10/2009

Pão quentinho com manteiga... na casa da mamãe

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Hoje estive de visita à mamãe, honrando meu compromisso semanal. Ela mora na aldeia de Alcogulhe, a escassos klms da cidade de Leiria. Ainda bem que cheguei cedo... pois, há anos que não assistia a um daqueles momentos, que ela considera como a sua terapia - do corpo e da alma: a cozedura do pão - uma espécie de ritual mágico, quase semanal, pleno de arte, amor e alguma ciência - como gosta de frisar orgulhosamente.
Hoje não houve lugar para os queixumes das muitas dores que se lhe alastram pelo corpo, nem para o "diz-que-disse", nem para as tricas e mexericos da aldeia.
Colocou as mãos na massa, enquanto eu, e a seu pedido, ia preparando a lenha, com que ela aqueceria o forno. Ainda propus, eu mesmo acender a fogueira, mas ela, sabendo bem da minha inaptidão para estas coisas, recusou categoricamente - « Não, não... isso é comigo, deixo-te apenas retirar o pão do forno... »
Pão a pão, tendidos na tigela, estendia-os na pá enfarinhada, fazendo-os entrar no forno quente, com perícia e precisão... e eu ali fiquei, ouvindo todos os detalhes do processo, enquanto deitava o olhar ao alourar do pão...
Entretanto, o pão cheiroso e estaladiço, estava pronto a ser retirado, e tal como me tinha prometido, lá fui retirando do forno, (meio nervoso), os pães... mas sempre com reparos e indicações.
Fiquei satisfeito por não ter deixado cair nenhum ao chão, e a minha mãe deve ter respirado de alívio...
Setenta e cinco anos de idade, tem a mamãe Laurinda, recheados de muitas alegrias, algumas tristezas e muitas fornadas de pão...
Escusado será de dizer, que o meu almoço, se ficou por um bom naco de pão quentinho e estaladiço com manteiga a derreter na boca.
Estava na hora de regressar a Leiria, e na mochila já todos adivinharam o que a mamãe lá colocou...
Pois... deixei-vos com água na boca, não foi?
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Texto e fotografia: Walter